MIGUEL VIEIRA BAPTISTA


23 JANEIRO 2014

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FICHA TÉCNICA
AULA DE GINÁSTICA
Prateleira de Esquina (maquete em PVC), Candeeiro de Canto (Valchromat e lâmpadas fluorescentes), Desenho de Canto (grafite e Ecoline sobre parede), Prateleira Horizontal (contraplacado de bétula), Prateleira Vertical (contraplacado de bétula), Cadeira de Parede (chapa de aço). (2014)


 

O exercício, enquanto modelo

Miguel Vieira Baptista é designer, e é nessa qualidade que pensou esta edição do EMPTY CUBE, sob o título “Aula de Ginástica”. O título pode aparentar uma certa ironia sobre a prática de um exercício tradicionalmente físico e espacial. E é precisamente sob um programa de exercícios específicos que Vieira Baptista trabalhou este projecto. Numa tipologia diferente, o exercício mental, abrindo a sua reflexão sobre as condições expositivas, neste caso em particular sobre a delimitação da presença do espaço mostrativo e simultaneamente identitário que caracteriza o EMPTY CUBE e tem sido objecto de intervenção por parte de outros autores, mas que neste projecto conhece um outro desenvolvimento mais radical: adoptar a sua ausência como possibilidade de o reintegrar no espaço da galeria Appleton Square através do posicionamento geométrico de modelos e maquetes concebidos especificamente para este evento e que traduzem a linguagem e o vocabulário do seu trabalho enquanto designer.
Os objectos que constroem a geografia do cubo encontram-se colocados e montados nos limites espaciais da galeria, junto às paredes e chão. São objectos que denunciam a prática do atelier, combinando a manufactura com a intervenção industrial necessária para dar a forma rigorosa que o protótipo deve revelar, como acontece na cadeira de parede em chapa de ferro cortada a laser e quinada. Esta obra, ainda numa fase de estudo, confronta o espectador com a possibilidade de ocupar um espaço único. Ou seja, é uma das peças que é possível usar e encontra-se num dos vértices do quadrilátero imaginário que nos introduz na aula de ginástica e nos faz acompanhar uma sucessão de exercícios que Vieira Baptista nos propõe, entre a efemeridade do projecto e a perenidade anunciada pelos modelos que ainda requerem acabamento.
A noção de tempo, de momento, a unidade complexa que a ideia de aula contempla encontra neste projecto uma síntese performativa, no sentido em que tudo o que é dado a ver será sujeito a uma transformação a posteriori, eventualmente um acabamento, para que o desenho transformado em objecto conheça um caminho mais perene e não apenas este momento único e irrepetível enquanto projecto conceptual exposto.

As peças: Prateleira de Esquina (maquete em PVC), Candeeiro de Canto (Valchromat e lâmpadas fluorescentes), Desenho de Canto (grafite e Ecoline sobre parede), Prateleira Horizontal (contraplacado de bétula), Prateleira Vertical (contraplacado de bétula), Cadeira de Parede (chapa de aço).

Esta lista permite conhecer os materiais, mas também a função de alguns dos objectos e consta deste texto porque no seu conjunto um destes ultrapassa esse desígnio utilitário que se sucede à sua produção industrial, indiferentemente da quantidade produzida ou da edição. Refiro-me ao “Desenho de Canto”, executado e pintado à mão livre, objecto específico num espaço que resgata um outro e que só existirá neste breve período de exposição. Um vértice correspondente a uma superfície geométrica, enunciado de um sólido que marca definitivamente esse exercício do pensamento numa real aula de ginástica mental, irrepetível mas indelével pelo tempo.

João Silvério
Janeiro 2014