MIGUEL PALMA
10 FEVEREIRO 2010
01

FICHA TÉCNICA
MEMORABILIA
2010
Instalação



(auto)memorável

(auto)memorável recorre ao universo do automóvel, criando um momento de reflexão sobre a Arte e o processo de criação do seu autor, Miguel Palma.

Partindo do espaço vazio do cubo, Palma aceita o desafio do efémero, intrínseco ao projecto Empty Cube, tornando a sua intervenção num momento integrante da memória de todos os presentes.

Indiscutivelmente, o automóvel surge como elemento fundamental de toda a estrutura do projecto em exposição.
Os inúmeros artefactos fundem cronologicamente a existência do automóvel ao longo da sua evolução técnica, demonstrando o espírito visionário, o esforço e o desejo de expansão das limitações do corpo humano.

O impacto que o automóvel teve e tem desde o seu aparecimento é incontornável. Graças a esta máquina, o Homem expandiu o seu território de actuação, transformou a paisagem, mudou a forma como ocupa o espaço, como produz e distribui alimentos e outros bens.

Palma acrescenta-se à inúmera e diversa memorabilia exposta. É à primeira vista um coleccionador, mas assume-se também enquanto projectista e interventor na própria História.
O excesso de informação existe em antítese a um terror da ausência – facto a que a Sociedade de Consumo nos habituou e que impede que se repense uma nova organização social desprovida de lutas de interesse. Mas ao mesmo tempo Palma partilha a sua prática, muitas vezes do conhecimento de apenas aqueles que colaboram directamente consigo.

Surgem referências a temas que são hoje parte dos problemas que nos afectam a todos: urbanismo, energia, política, guerra...
Acusa ainda o espírito dos pioneiros através da sua participação na competição (Prova de Artista, 2001) ou nas várias viagens que realizou com “protótipos” por si idealizados; ou mesmo no repensar do belicismo humano (Sementeira, 2006).

À entrada da Appleton Square e ainda sem ter sido confrontado com o interior do Cubo, o espectador é interpelado por uma instalação (Memorabilia, 2010) que nos faz pensar sobre o impacto do veículo no ambiente, do qual nos abstraímos a bem das nossas necessidades (reais ou que criamos artificialmente). O gás venenoso do escape enche um balão, sendo filtrado dentro do mesmo.
A atitude do artista é a de purificar ou santificar a máquina. Quem polui é o criador e é ele quem tem também o poder de eliminar esse aspecto negativo da utilização da sua criação. Todos os problemas têm solução, se critérios menos claros, como a viabilidade económica, não forem considerados enquanto variáveis desses problemas.

Palma revela também, ainda que de forma não explícita, o seu processo de trabalho.
Auxiliado por conhecedores que se encontram no terreno, o artista selecciona e reúne os vários artefactos pertencentes ao imaginário automóvel. São eles que numa primeira aproximação funcionam como os seus olhos, respondendo aos seus desejos.
Esta parte menos conhecida é fundamental no seu processo criativo.

A partir daqui, Miguel Palma remete-se à sua “oficina” (atelier), onde desconstrói, destrói, recria e transforma os objectos (automóveis), pensando novas soluções ou situações que deles advêm.
À automação das linhas de montagem, Palma responde dentro do mesmo registo dos criadores de outrora, originando uma nova significação sobre o funcional da máquina.

O espectador tem desta forma a oportunidade de participar dentro desse processo criativo, metaforicamente dividido pelo cubo, percepcionando e criando as suas ilações no seguimento do processo do artista.

Pedro dos Reis


 


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