MIGUEL RIOS DESIGN
13 MAIO 2010
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FICHA TÉCNICA
“PIRSON: JE POURRAIS AUSSI REGARDER LA CHAISE COMME UN OBJECT (PARMI D’AUTRES)...”



O espaço para a cadeira.

O convite endereçado a Miguel Rios para conceber um projecto para o EMPTY CUBE teve como ponto de partida duas premissas: a primeira foi lançar um desafio à realização de um acontecimento em que a forma cúbica do espaço temporário fosse o objecto de reflexão de um designer.

A segunda, questionar a possibilidade deste acontecimento efémero poder transitar para uma plataforma ficcional a partir de um contexto de trabalho em que a função, aliada ao raciocínio estético como prática de estudo, é o seu modus operandi.

Como refere António Pinto Ribeiro no ensaio Por exemplo a cadeira: “Só o ser humano tem a particularidade de recorrer a este compasso que a cadeira permite, interrompendo, assim, a cadeia de movimentos.”

O que o designer nos propõe, durante o momento em que este projecto pode ser visto, é uma experiência híbrida que nos situa entre a ficção e a realidade, como uma suspensão entre o simulacro e o real. Esta experiência, que se desenvolve na totalidade do espaço expositivo da Galeria Appleton Square, sujeita-nos a um desdobramento da compreensão desse espaço e dos objectos que este contém. Em primeiro lugar, a forma cúbica, que está na origem do objecto criado, e aparece aparentemente replicada pelo desdobramento de uma das faces do espaço arquitectónico em que se realiza o EMPTY CUBE. Em segundo lugar, o objecto criado, uma cadeira pensada e desenhada a partir de um cubo, que é apresentada em dois momentos sucessivos que criam uma oposição. Podemos dizer que esta acção se passa em dois actos.

No primeiro, espreitamos um objecto que associamos a uma cadeira dentro do cubo. Este objecto, a cadeira, é em tudo semelhante às cadeiras que veremos no segundo acto, dispostas numa composição cenográfica. A primeira cadeira que observamos não é representada por um desenho, ou por uma sequência de imagens que recriaria uma impossibilidade de forma realista, reforçando o nosso imaginário impregnado pela fantasia e pelo desejo. Essa cadeira é um objecto dinâmico, condicionado por um dispositivo de observação que convoca os princípios da geometria, e nos coloca no ponto de fuga da perspectiva ao qual corresponde um objecto real. Este projecto é uma evocação do cubo de Louis Albert Necker, no sentido em que nos propõe uma experiência ilusória, mas tridimensional.

A cadeira foi projectada tomando como modelo uma forma geométrica regular, sujeita a uma intervenção que a coloca numa relação ficcional com o observador. O rigor austero do desenho e a escolha de um material único para a sua execução revelam uma afinidade com o pensamento minimalista, e mais concretamente com as reflexões e a produção de Donald Judd.

O projecto “Pirson: Je pourrais aussi regarder la chaise comme un object (parmi d’autres)…” que Miguel Rios e o seu gabinete de design conceberam, reenvia-nos para uma diversidade de referentes que trespassam a arquitectura, o design, a escultura, o desenho ou o cinema, mas simultaneamente ausculta o absurdo ou a transgressão. A cadeira transforma-se numa figura transitória que se encontra entre a impossibilidade e a sua presença como objecto destinado ao consumo. Entre a “câmara escura” como espaço condicionado da observação – e assim da percepção – e a galeria como espaço relacional e mundano.

João Silvério
Maio 2010