FILIPE ALARCÃO
2 ABRIL 2013

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FICHA TÉCNICA
EMPTY CUBE
Madeira e vidro.
Modelo: materiais diversos

Da relação de um objecto com um espaço que é um objecto que está dentro do espaço.


 

full cube

No trabalho de Filipe Alarcão o desenho é um elemento constitutivo da sua actividade principal, o design. Esta afirmação, aparentemente redundante, leva-nos a observar a sua obra tendo em atenção alguns objectos produzidos que se relacionam directamente com a materialização do desenho. Estes objectos, que quero referir aqui, são os Desenhos a Duas Dimensões e Meia que estiveram presentes na exposição Introspectiva, no MUDE – Museu do Design e da Moda, Lisboa, em 2012. Alarcão desenhou estruturas (semelhantes a figuras geométricas hexagonais) em que as linhas determinam completamente a figura e são produzidas em aço inox polido, permitindo que, e aqui cito o autor, “de algum modo, as faces laterais das estruturas se fundam com o plano de apoio destacando as superfícies frontais como se fossem linhas sem profundidade.” 
A sua intervenção no projecto EMPTY CUBE vem na esteira dessas preocupações sobre a tridimensionalidade e as relações espaciais que aí podem ocorrer. Filipe Alarcão desenvolveu, a partir de um estudo feito com a maqueta do EMPTY CUBE, um modelo à escala de uma figura geométrica, um prisma triangular, que permite ao observador apreender na sua totalidade a forma da construção vítrea que é instalada no interior da estrutura do EMPTY CUBE. Esta construção prismática, espelhada, tem a mesma escala e proporção da arquitectura do EMPTY CUBE e apropria-se da sua estrutura, reflectindo-a no interior de si mesma como uma superfície geométrica reflectora que sujeita o observador a uma experiência sensorial, uma espécie de mise en abyme que recontextualiza o espaço, criando uma permeabilidade entre exterior e interior que reavalia as suas potencialidades orgânicas. Contudo, a utilização dos espelhos, recorrente na obra deste designer, convoca uma “visualidade modernista”, como refere Maria Teresa Cruz no catálogo da exposição Introspectiva, que passo a citar: “Mas os jogos subtis com a tridimensionalidade, a rigorosa instalação das peças no espaço, o interesse pelos espelhos (verdadeiras máquinas de visão) – em suma, a convocação fundamental do olhar do receptor, funcionam como uma fuga desse mesmo paradigma modernista, um pouco à semelhança do que aconteceu na arte contemporânea, sob influência do minimalismo, do opticalismo e da instalação.” Neste âmbito, a peça “empty cube” revela uma forma de pensamento sobre as condições de possibilidade da exposição como instância da experiência perceptiva e sensorial, assente numa genealogia histórica onde nos cruzamos com o espaço Proun (1923) de El Lissitzky, ou com a obra Public Space/Two Audiences (1976) de Dan Graham.
No presente projecto existem ainda dois níveis de apreensão. O primeiro encontra-se na relação com a palavra, em que Filipe Alarcão reforça essa ideia de encontro e de regresso a si mesmo, materializado na instalação e inscrito no título “empty cube”, nomeando a obra como o lugar e o espaço, numa lógica de apropriação que resgata o contexto e a sua componente conceptual. O segundo nível prende-se com a relação que o espectador pode construir com o espaço envolvente a partir da instalação e do modelo, pré-existente, exposto na sala da galeria que acolhe o projecto, num ângulo cego relativamente às reflexões da construção definitiva. A relação entre a escala do modelo (o trabalho de estúdio) e a instalação permite-nos reencontrar a dimensão projectiva do seu processo de trabalho, confrontando-nos no mesmo espaço com uma duplicação contraditória.

João Silvério

Março 2013

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